Edifício Penthouse: o que causou sua decadência?
Talvez você não saiba seu nome, mas com certeza você já viu alguma imagem do Edifício Penthouse. Localizado no bairro Morumbi, na zona sul de São Paulo, ele é frequentemente utilizado para exemplificar a desigualdade social no Brasil.
Nas fotos, frequentemente utilizadas em aulas de geografia e sociologia, o prédio luxuoso com piscinas nas suas sacadas divide a imagem com o bairro de Paraisópolis, favela que integra o distrito de Vila Andrade.
Por muitos anos, esse era o significado da imagem: o contraste entre uma realidade de luxo e a realidade humilde da favela, com casas de tijolo à vista em meio às ruas apertadas.
No entanto, há alguns anos, o edifício conhecido por seu luxo e requinte ganhou as manchetes por outro motivo: os problemas na gestão financeira e a decadência de sua estrutura, com muitos de seus apartamentos ficando vazios e com aspecto de total abandono.
Para falar sobre esse assunto, a uCondo preparou um novo post, detalhando os motivos que ocasionaram os problemas vividos no Edifício Penthouse. Boa leitura!
O Edifício Penthouse
Inaugurado em 1979 pela renomada construtora Lindenberg, o Edifício Penthouse surgiu como uma afirmação de luxo e exclusividade em uma das áreas mais privilegiadas da capital paulista, o Morumbi.
Seu projeto arquitetônico inovador, com a audaciosa forma espiral, destacou-se desde o início, proporcionando uma experiência de vida única para seus moradores.
Com apartamentos espaçosos de 355 metros quadrados, cada unidade do Edifício Penthouse é uma penthouse em si, oferecendo conforto interno e um amplo terraço com piscina privativa. Esta característica, incomum na época, contribuiu para elevar ainda mais o prestígio do edifício.
Localizado em um dos pontos mais elevados do Morumbi, o Edifício Penthouse presenteava seus residentes com vistas panorâmicas da cidade, mesmo a partir dos andares inferiores.
Além disso, o Edifício Penthouse ganhou reconhecimento nacional como o lar da "Bonitona do Morumbi", personagem de destaque na novela "A Próxima Vítima", ampliando ainda mais sua fama e aura de exclusividade.
O contraste com Paraisópolis
Na inauguração do edifício e no começo da década de 80, Paraisópolis era apenas um pequeno bairro, ainda muito distante do bairro Morumbi. Ambos ainda estavam separados por uma grande área verde, totalmente desocupada.
Com o passar dos anos, Paraisópolis avançou no território que estava desocupado e se transformou em uma das maiores favelas da capital. Com mais de 100 mil habitantes, ela “invadiu” a área que havia ao lado do bairro nobre.
A famosa foto capturada em 2002 (veja abaixo), mostra a comunidade ao lado do luxuoso edifício, ressaltando o contraste entre as duas realidades, separadas apenas por um muro.
Muitos moradores do edifício e do Morumbi relatam que após a chegada da favela até as proximidades do bairro, houve uma mudança significativa em relação ao som alto, comum durante as noites de festa na comunidade.
Muitos dos moradores relatam que a mudança no cenário desvalorizou os imóveis da região, contribuindo para a decadência deste e de outros prédios.
Recentemente, a favela foi imortalizada como cenário da novela “I Love Paraisópolis”, exibida pela Globo em 2015.
A decadência do Edifício Penthouse
O que muitos não sabem é que, após a conhecida imagem, muita coisa mudou. O edifício, que antes era luxuoso e requintado, passou por uma mudança drástica nos últimos anos.
No começo de 2024, alguns veículos de imprensa voltaram a mostrar a atual situação do Edifício Penthouse, descrita por alguns dos atuais moradores como “decadente”.
De acordo com o relato dos jornalistas, o exterior do prédio é marcado por mato “na altura do joelho” e pintura manchada. Por dentro, o prédio está tomado por infiltrações, com suas áreas comuns depreciadas e com aspecto de abandono.
Alguns dos proprietários enfrentam dívidas milionárias de IPTU e de taxas condominiais atrasadas. Muitos dos imóveis, inclusive, já foram a leilão.
No passado, um apartamento no Penthouse valia quase um milhão de reais. Nos leilões mais recentes, chegaram a ser oferecidos por menos de R$450. E não houve compradores.
Crise financeira ou má gestão?
Muitos podem se perguntar sobre a situação: é culpa da crise financeira ou de má gestão? Bom, existem muitos pontos a se observar.
Os moradores do entorno do prédio relatam que essa região, há alguns anos, não passa um sentimento de segurança. O crescimento do crime organizado é notável em toda a zona sul da capital paulista, um dos fatores determinantes para a desvalorização dos imóveis do distrito.
Atualmente, seis dos treze moradores devem (se somados) mais de 1,5 milhão de reais em IPTU à Prefeitura. Os boletos de condomínio vencidos totalizam mais de 500 mil reais, o que explica a deterioração da estrutura do prédio.
De acordo com a gestão, algumas das treze unidades se encontram inadimplentes. Ao todo, são mais de 200 mil reais em impostos previdenciários atrasados.
Para detalhar a situação, a uCondo trouxe um vídeo especial. Assista:
A atual situação dos apartamentos
Dois imóveis citados pela reportagem da Veja estão em processo de leilão.
O primeiro apartamento citado, localizado no 2º andar, conta com duas suítes, dois dormitórios com sacadas privativas, quatro banheiros, três vagas de garagem e varanda com piscina. Com preço inicial de R$490 mil, ele ainda não teve interessados.
No 10º andar, outra unidade está em leilão, com lance inicial de meio milhão de reais. A reportagem cita que ele está em melhor estado de conservação, apesar da piscina, que está “quebrada”.
Já no 9º andar, um apartamento está pronto para morar. Em bom estado de conservação, ele pode ser locado por R$1.200. O condomínio, no entanto, custa R$4.800 mensais, enquanto o IPTU custa R$12.000 ao ano.
Assista a reportagem do programa Domingo Espetacular e saiba mais sobre o prédio:
O acúmulo de dívidas
Enquanto Paraisópolis “avançava” e se aproximava, uma série de problemas dividia os moradores dentro do Penthouse.
Na década de 90, muitos moradores deixaram de pagar a taxa condominial e passaram a acumular dívidas. Na segunda metade da década, a administração do condomínio passou a ter cada vez mais gastos com ações judiciais contra moradores inadimplentes.
Um dos seus moradores mais antigos protagonizou mais de 50 processos. O empresário acumulou mais de R$400 mil em dívidas de condomínio e IPTU. O imóvel foi a leilão por este valor e nunca foi arrematado.
No prédio, outra moradora superou R$600 mil em dívidas, chegando a ser investigada por uma etapa da Operação Lava-Jato por suposto envolvimento em um esquema de propinas.
Em alguns momentos, o condomínio chegou a ter mais de 20 processos ativos. E esse problema se tornou uma bola de neve para a gestão do condomínio.
Muitos moradores deixaram o local e também deixaram de pagar a taxa de condomínio. Com isso, o custo mensal precisava ser dividido entre os moradores que ainda faziam o pagamento.
A partir de 2015, a situação se agravou. Com uma nova alta da inadimplência, a estrutura do prédio foi se degradando. A taxa de condomínio subia cada vez mais para conter as dívidas, custear as ações judiciais e ainda arcar com os custos de manutenção.
O prédio, que já foi símbolo de luxo e glamour, reunindo empresários, bancários e famosos, exibe apenas varandas em péssimo estado de conservação, com piscinas sujas e com vegetação tomando conta das sacadas.
Os problemas na gestão condominial
Por se tratar de um condomínio, o Edifício Penthouse precisa que as taxas condominiais estejam em dia para que a manutenção também esteja.
Como você já pode imaginar, a má gestão dos recursos e a inadimplência de taxas condominiais podem ter um impacto significativo na gestão de um condomínio de luxo, causando a deterioração de sua estrutura:
- Falta de recursos financeiros: As taxas condominiais são essenciais para cobrir despesas operacionais, manutenção e reparos nas áreas comuns e infraestrutura do condomínio. Se os proprietários não pagarem suas taxas regularmente, o condomínio pode enfrentar uma falta de recursos financeiros para realizar essas tarefas essenciais.
- Manutenção inadequada: A falta de recursos financeiros devido à inadimplência pode levar à falta de manutenção adequada nas áreas comuns e nas estruturas do condomínio. A manutenção inadequada pode resultar em problemas estruturais graves ao longo do tempo, como vazamentos, infiltrações, falhas elétricas, problemas estruturais, entre outros.
- Diminuição do valor das unidades: Um condomínio de luxo depende de sua reputação e aparência para manter o valor das unidades. Se a estrutura do condomínio começar a se deteriorar devido à falta de manutenção, isso pode afetar negativamente a imagem do condomínio, levando à desvalorização das unidades, o que por sua vez pode resultar em mais proprietários lutando para pagar suas taxas condominiais.
- Possíveis problemas legais: A inadimplência crônica pode levar o condomínio a tomar medidas legais contra os proprietários inadimplentes, o que pode ser um processo longo e custoso. Além disso, pode haver disputas legais entre proprietários e a administração do condomínio devido à má gestão financeira ou à falta de manutenção adequada.
- Impacto na qualidade de vida: Uma estrutura de condomínio mal conservada pode afetar diretamente a qualidade de vida dos moradores. Problemas como elevadores quebrados, áreas comuns sujas ou mal iluminadas, piscinas sujas ou mal conservadas, entre outros, podem tornar a vida no condomínio desconfortável e desagradável.
Para evitar esses problemas, é crucial que os condomínios tenham políticas claras de gestão financeira e utilizem sistemas que ajudem a garantir que as taxas condominiais sejam pagas pontualmente.
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