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Autismo nos condomínios: Conscientização através da inclusão

O autismo é uma condição que afeta a maneira como as pessoas percebem e interagem com o mundo ao seu redor. 

Embora seja um transtorno relativamente comum, muitas vezes as pessoas com autismo enfrentam barreiras significativas quando se trata de se integrar à sociedade.

A inclusão de pessoas com autismo é um tema importante e urgente, pois envolve não apenas garantir que essas pessoas tenham acesso a oportunidades iguais, mas também que possam contribuir plenamente para suas comunidades.

Para produzir um novo artigo sobre o autismo e a inclusão de pessoas autistas em condomínios, o blog uCondo conversou com duas especialistas, que detalharam diversos pontos importantes do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e destacaram a importância da conscientização sobre o tema.

Índice:




O que é autismo?

O autismo, atualmente chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. 

Ele é considerado um espectro porque os sintomas e a gravidade variam de pessoa para pessoa. 

Algumas pessoas com TEA podem ter dificuldade para se comunicar verbalmente, enquanto outras podem falar fluentemente, mas têm dificuldade em entender as nuances da linguagem e da comunicação social.

O canal Saúde na Infância acompanhou a jornada de pais que precisaram lidar com o diagnóstico de  transtorno do espectro autista, TEA, em seus filhos. Assista e entenda mais:

Qual a forma correta de se referir ao Autismo?

A forma correta de se referir ao Autismo é "pessoas com Autismo" ou "pessoas no espectro autista". Essas formas reconhecem que a pessoa é mais do que sua condição e que cada indivíduo no espectro autista é único em suas habilidades e desafios.

Evite usar termos desatualizados e ofensivos, como "autista" como um rótulo ou descrição para a pessoa, ou "síndrome de Asperger" para se referir ao espectro autista em geral, já que esse termo não é mais amplamente utilizado.

Também é importante lembrar que a linguagem é apenas uma parte da maneira como as pessoas com autismo são tratadas e incluídas na sociedade. O respeito pela individualidade, aceitação, compreensão e inclusão são fundamentais para uma sociedade justa e equitativa.




Como é feito o diagnóstico de autismo?

O diagnóstico de autismo é baseado na avaliação clínica do comportamento e das habilidades sociais, de comunicação e de interesse restrito e repetitivo da pessoa.

A primeira especialista consultada pelo blog uCondo foi a fonoaudióloga Gabriella Bassani, pós-graduada em Fonoaudiologia no Autismo e diretora da Clínica Espaço Mult, que oferece acompanhamento multiprofissional para o acompanhamento de pessoas com TEA.

Gabriella destaca que o diagnóstico passa por uma avaliação que engloba, simultaneamente, todas as avaliações clínicas citadas acima:

“Na investigação para o diagnóstico, é necessária a avaliação multidisciplinar, contando com fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo. Existem outros profissionais que fazem parte dessa investigação, como o fisioterapeuta, que avalia o aspecto motor global. Além disso, toda a investigação é acompanhada pelo neuropediatra, que dá a confirmação do diagnóstico“, pontuou a fonoaudióloga.

De acordo com a profissional, o apoio da família é a parte mais importante no processo de diagnóstico. Desta forma, toda a equipe precisa ter a sensibilidade e empatia necessárias para trazer acolhimento e fornecer o máximo de informações possíveis.

Ainda conforme Gabriella, o indicado para realizar tanto o diagnóstico quanto a intervenção é que esses profissionais sejam terapeutas especializados no autismo e com formação ABA (sigla para Applied Behaviour Analysis, ou Análise do Comportamento Aplicada).

“Vários profissionais da clínica possuem essa formação e focamos bastante em estudar cada caso para montar o plano terapêutico integralizado em todas as terapias”, destacou.

O que causa o autismo?

O autismo é uma condição neurológica complexa e a causa exata ainda é desconhecida. No entanto, acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

Pesquisas sugerem que a genética pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento do autismo. Estudos mostram que certas variações genéticas podem aumentar a probabilidade de uma pessoa desenvolver autismo.

Além disso, outras pesquisas procuram relação com fatores ambientais, como a exposição a produtos químicos tóxicos durante a gravidez ou o parto prematuro, o que poderia aumentar o risco de desenvolver autismo.

Como identificar os sintomas do autismo?

Os critérios de diagnóstico mais utilizados atualmente para o autismo são os do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria. 

Esses critérios incluem dificuldades significativas na comunicação social e na interação social, além de padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses ou atividades.

Outros sintomas comuns incluem a dificuldade em se adaptar a mudanças e a necessidade de rotina e ordem. Esses sintomas geralmente aparecem na infância, embora possam não ser reconhecidos até mais tarde.

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A questão sensorial e a convivência

A fonoaudióloga lembrou que no autismo, existe uma alteração do processamento sensorial: a pessoa no espectro tem sensações diferentes quanto a estímulos variados, sendo eles sonoros, táteis, visuais, gustativos e até proprioceptivos.

É necessário compreender que nem todos possuem a mesma alteração, mesmo estando no espectro do autismo. A profissional destaca que as pessoas precisam ter mais empatia e que a falta de informação acaba levando a incompreensão: 

“Deveríamos ter mais políticas públicas e acesso a esses conhecimentos para que não tivéssemos pessoas errando quanto a cobranças indevidas”, destacou Gabriella.

Quando falamos de estímulos, podemos imaginar todas as questões sensoriais despertadas durante a convivência em condomínios, tendo em vista que as reclamações relativas a quaisquer tipo de perturbação estão entre as mais comuns.

Questão sensorial é um dos principais pontos do Transtorno do Espectro Autista
Questão sensorial é um dos principais pontos do Transtorno do Espectro Autista (TEA)

A fonoaudióloga destaca que um dos métodos utilizados é a realização de palestras dentro de escolas e igrejas, onde barulhos são exacerbados, visando diminuir as incidências de exclusão e falta de adaptação do espaço quanto às questões sensoriais. 

“Orientamos sempre sobre como o cérebro do autista recebe esses estímulos sensoriais e como são suas respostas para que compreendam de fato sua limitação a esses estímulos. É necessário manter a terapia para proporcionar uma reorganização sensorial. Sempre orientamos ao final das sessões como proceder com essas reorganizações dentro dos ambientes domésticos, onde existem diversos estímulos sonoros e visuais”, complementou. 

Além disso, a profissional destaca a importância da orientação de vizinhos e moradores próximos, explicando sobre as limitações que seu filho apresenta sobre o barulho e como são suas respostas a esses estímulos, para que haja compreensão e empatia.

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Como uma pessoa com autismo enxerga o mundo?

Como transtorno do desenvolvimento neurológico, o autismo afeta a maneira como uma pessoa processa informações sensoriais e sociais. Como resultado, a forma como uma pessoa com autismo enxerga o mundo pode ser diferente da maioria das pessoas neurotípicas.

Como destacado acima, as pessoas com autismo podem ter uma sensibilidade sensorial aumentada ou diminuída em relação a certos estímulos, como luzes, sons, texturas e gostos.

Isso significa que eles podem sentir desconforto em ambientes barulhentos, brilhantes ou lotados, ou podem ter dificuldade em entender as nuances sociais em interações com outras pessoas.

Além disso, algumas pessoas com autismo podem ter dificuldade em interpretar e expressar emoções e podem ter interesses intensos e específicos em determinados assuntos. 

Esses interesses podem ser muito importantes para a pessoa com autismo, e eles podem querer falar sobre eles repetidamente ou se concentrar neles durante longos períodos de tempo.

No entanto, é importante lembrar que cada pessoa com autismo é única e experimenta o mundo de maneira diferente. Algumas pessoas com autismo podem ter um alto nível de funcionamento e podem ter habilidades e interesses que se destacam, enquanto outras podem precisar de mais apoio para realizar tarefas diárias.




Qual o papel do psicólogo no tratamento do autismo?

A segunda profissional consultada pelo blog uCondo foi a psicóloga e analista de comportamento Rebeca Benassi, especialista em ABA aplicada ao TEA e outros transtornos de desenvolvimento.

Rebeca representa um papel extremamente importante tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento da pessoa com TEA: o papel da Psicologia.

Na grande maioria dos casos, as pessoas com TEA são encaminhadas para acompanhamento com um psicólogo após o diagnóstico de um neuropediatra ou por um pediatra ainda durante o período de diagnóstico.

“Temos algumas condutas para evitar com que o acompanhamento seja invasivo. Temos que ter cuidado com cheiro, cor, textura, volume da voz, na forma de falar, etc. Normalmente, nós falamos com os pais antes para saber o que a criança gosta, para que a gente possa fazer um primeiro contato que seja benéfico para a criança”, destacou Rebeca, que ressaltou a importância do cuidado com a questão sensorial.

A psicóloga destaca que a fase de diagnóstico do autismo é feita através de várias escalas de avaliação, já que não existe um marcador biológico específico.

mãe com filha autista
Papel do psicólogo é essencial para o desenvolvimento de crianças com autismo



Os desafios da inclusão de pessoas com TEA

De acordo com a psicóloga, as duas principais barreiras para a inclusão de pessoas com TEA na sociedade são a falta de informação e os mitos envolvendo o autismo.

“Todo mundo acha que o autista é um gênio ou então que é uma pessoa que tem uma deficiência muito grave, quando na verdade estamos falando de um espectro que pode variar entre casos muito leves até casos muito severos”, explicou Rebeca.

A psicóloga conta que as duas barreiras ainda são muito visíveis e que em muitos casos, a inclusão ainda não é cultural. 

Segundo ela, ainda existem diversas situações onde as crianças e as próprias famílias acabam sendo excluídas da convivência em sociedade por conta da falta de informação ou do preconceito em relação ao autismo.

“É bonito falar que você é uma pessoa inclusiva, mas a sua atitude, muitas vezes, não é de uma pessoa inclusiva. Temos falado muito que nós queremos que, nessa geração, a inclusão seja algo cultural [...] Nossa ideia é que essa geração seja uma geração que inclui porque isso é natural para eles. Isso é natural para eles, já que a criança não nasce com preconceito”, finalizou a psicóloga Rebeca Benassi.



Comunicação com empatia e sensibilidade

Cada paciente possui uma demanda específica na comunicação e existem diversos meios de se comunicar. Dentro do espectro, a fonoaudióloga Gabriella Bassani ainda destacou que existem crianças com comunicação verbal e não verbal.

Em relação a isso, a profissional frisou que é preciso entender que existe uma comunicação e ela precisa ser respeitada. 

“Utilizamos gestos, símbolos, sons, imagens e expressões faciais, corporais e táteis para nos comunicar. Cada pessoa no espectro tem sua particularidade nessa comunicação e deseja se fazer entendida pelo outro, expressando seus desejos e frustrações”, explicou Gabriella.

De acordo com a fonoaudióloga, o próprio choro, grito e comportamentos inadequados como bater, são meios de se comunicar. 

“O que precisamos entender é que quando olhamos com empatia, sensibilidade e amor, a comunicação que o outro transmite faz-se entendida e acolhida”, complementou.

Em relação à sua área de atuação, a especialista destacou que a Fonoaudiologia sempre busca estimular uma melhora nesse processo de comunicação, sendo verbal ou não verbal, promovendo também a socialização, já que a comunicação é essencial para vivermos em sociedade.




O que diz a Lei sobre autismo?

A principal Lei sobre o autismo é a Lei nº 13.977/2020, conhecida como Lei Romeo Mion, em homenagem ao filho do apresentador Marcos Mion, diagnosticado com transtorno do espectro autista. 

O texto alterou a Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. 

A nova Lei criou a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), que assegura atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

Leia também: Como obter a CIPTEA?

Criança com autismo ainda são alvo de preconceito
Crianças com autismo ainda são alvos de preconceito

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, estabelece garantias e direitos para as pessoas com autismo. Algumas das principais disposições são:

  1. Autismo é considerado uma deficiência: A Lei reconhece que o autismo é uma deficiência e que as pessoas com autismo têm os mesmos direitos e garantias que as pessoas com outras deficiências.

  1. Atendimento prioritário: As pessoas com autismo têm direito a atendimento prioritário em serviços públicos e privados, como saúde, educação, transporte e outros.

  1. Acessibilidade: As empresas e órgãos públicos devem oferecer acessibilidade às pessoas com autismo, por meio de adaptações arquitetônicas, comunicação e outras medidas necessárias para que elas possam ter acesso aos serviços e informações.

  1. Educação inclusiva: As pessoas com autismo têm direito à educação inclusiva em escolas regulares, com adaptações e recursos necessários para que possam se desenvolver.

  1. Direito à saúde: As pessoas com autismo têm direito a atendimento especializado em saúde, incluindo diagnóstico, tratamento e acompanhamento.

  1. Inclusão no mercado de trabalho: As empresas devem promover a inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho, com adaptações necessárias para que possam exercer suas funções.

  2. Proteção contra discriminação: A Lei proíbe a discriminação contra as pessoas com autismo em qualquer situação, incluindo no acesso a serviços e em situações de trabalho.



O preconceito e o sentimento de exclusão

Aos nossos leitores mais assíduos, talvez o tema tenha fugido um pouco do usual. Neste conteúdo, falamos menos sobre a convivência dentro de um condomínio e mais sobre a inclusão de pessoas com TEA, que muitas vezes acabam passando por muitos problemas com vizinhos, independente do local.

Para exemplificar esses problemas, trazemos um vídeo do canal Clube dos Direitos da PCD. Assista e entenda mais:

Porque 2 de abril é o Dia do autismo?

O dia 2 de abril foi escolhido como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo por decisão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que adotou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2007, reconhecendo a importância da inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.

O objetivo do Dia Mundial da Conscientização do Autismo é aumentar a conscientização sobre o autismo em todo o mundo, promover a inclusão das pessoas com autismo e incentivar a compreensão da comunidade sobre o autismo.

Qual é a cor que representa o autismo?

O autismo (ou Transtorno do Espectro Autista) é representado pelo azul, que representa a maior incidência de casos no sexo masculino.

Na data escolhida, 2 de abril, vários monumentos e edifícios de várias partes do mundo ficam iluminados com a cor azul.

O que significa o quebra cabeça no autismo?

O quebra-cabeça, ou "puzzle piece" em inglês, é frequentemente usado como um símbolo de conscientização do autismo. A origem do símbolo vem de uma organização chamada Autism Speaks, que adotou o quebra-cabeça como parte do seu logotipo em 2005.

A ideia por trás do uso do quebra-cabeça como símbolo do autismo é que o transtorno do espectro autista (TEA) é complexo e multifacetado, e cada pessoa com autismo é única e tem suas próprias habilidades, desafios e personalidade.




Inclusão através da igualdade de oportunidades

A sociedade precisa estar consciente das necessidades e potencialidades dessas pessoas para que sejam oferecidas oportunidades iguais de acesso à educação, emprego, lazer e convivência social. 

Além disso, é fundamental que haja campanhas de conscientização para desmistificar preconceitos e estereótipos que muitas vezes são associados ao autismo. 

Com a inclusão social, as pessoas com autismo podem desenvolver habilidades e contribuir para a sociedade de forma positiva, trazendo benefícios tanto para elas quanto para a comunidade como um todo. 

É necessário que haja um esforço conjunto entre governo, sociedade civil e instituições para promover a inclusão e a valorização das pessoas com autismo. A inclusão é um direito de todos e uma sociedade inclusiva é uma sociedade melhor para todos.

pai e filho autista
Igualdade de oportunidade é essencial para inclusão de crianças com autismo

Colaboraram neste conteúdo:

Gabriella Bassani - Fonoaudióloga; Pós-Graduada em Fonoaudiologia no autismo; Diretora da Clínica Espaço Mult
Rebeca Benassi - Psicóloga e Analista de Comportamento; Especialista em ABA aplicada ao TEA e outros transtornos de desenvolvimento; CRP: 08/21272.

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Postado em  

August 29, 2024

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